O mundo está em constante evolução, principalmente com o advento da tecnologia. Porém, se pararmos um pouco e prestarmos atenção, a nossa escola continua a mesma de décadas anteriores, principalmente em nosso país. Essa percepção é nítida, desde a organização física da sala de aula, como os móveis estão arrumados, até as metodologias de ensino e aprendizagem aplicadas. Com as cadeiras enfileiradas, a visão dos alunos sendo nuca a nuca, e o professor sempre à frente sendo o “dono da fala”, enquanto os alunos apenas escutam e tentam replicar o que lhes foi transmitido, produzindo assim, uma aprendizagem “mecânica”, conforme aponta Freire (2020).
Nessa perspectiva, salientamos a importância de fazermos uma reflexão acerca do papel do professor na sociedade atual, como enfatiza Moran (2018, p. 21), quando diz que: “o papel do professor hoje é muito mais amplo e complexo. Não está centrado só em transmitir informações de uma área específica; ele é principalmente designer de roteiros personalizados e grupais de aprendizagem e orientador/mentor de projetos profissionais e de vida dos alunos”.
Nessa lógica, sabemos que o ser humano, enquanto ser inacabado, e em constante evolução, é sociável e aprende a partir da interação com as outras pessoas no meio em que vive. Diante disto, é importante enfatizarmos a necessidade de inovar a prática docente, e ter um olhar ampliado para as mais diversas metodologias que estão sendo pesquisadas e comprovada a sua eficácia no desenvolvimento do ensino do professor e da aprendizagem do aluno. O uso das metodologias de aprendizagem ativa, na sala de aula, tem apresentado resultados eficientes, promovendo a construção do conhecimento de forma ativa.
Em nossa pesquisa, além de trabalhar com a Gamificação, utilizamos também a metodologia de aprendizagem ativa Instrução por Pares (Peer Instruction), desenvolvida por Mazur (2015).
Instrução por Pares (Peer Instruction), é uma metodologia de aprendizagem ativa, desenvolvida pelo professor de Física Eric Mazur, da Universidade Harvard, utilizada pela primeira vez em 1991. De acordo com Mazur (2015, p. 10), essa metodologia “conduz os estudantes a um melhor desempenho na resolução de problemas convencionais [...] essa abordagem também torna o ensino mais fácil e mais gratificante”. Segundo o autor, essa metodologia objetiva principalmente a interação entre os alunos e o foco nos conceitos a serem estudados.
É importante ressaltar que Mazur (2015), em sua experiência, aborda questões conceituais relacionadas à Física, ao passo que em nossa pesquisa essa metodologia foi adaptada ao ensino de Matemática, recorrendo às equações e cálculos de maneira simples e objetiva, conduzindo os alunos a refletirem acerca dos conteúdos que envolvem, Grandezas e Medidas, e Geometria, a saber, Área e Perímetro de figuras geométricas planas, a partir de questões contextualizadas.
Destacamos que, em nossa pesquisa, conseguimos obter informações, com riquezas de detalhes, sobre a utilização dessa metodologia de aprendizagem ativa, a qual ajudou os alunos participantes a desenvolverem o autoconhecimento e autonomia. Além da capacidade de trabalhar em equipe, e o espirito de liderança e, claro, respeitando a opinião do outro. Foi uma experiência enriquecedora, a qual vale a pena ser compartilhada com outros professores, na intenção de contribuir com o andamento das aulas de Matemática. Destacamos ainda que, a combinação das duas metodologias de aprendizagem ativa, utilizadas em nossa investigação, ou seja, a Gamificação em conjunto com a Instrução por Pares, utilizando o Socrative, promove resultados surpreendentes no processo de ensino e aprendizagem.
A metodologia de aprendizagem ativa Instrução por Pares é dividida em três momentos distintos:
1º) Pré-aula (antes da aula) - são disponibilizados, ao aluno, alguns materiais referentes ao conteúdo para que serem estudados previamente, dentre outros podemos citar: textos, vídeos, links de sites, podcast, e algumas questões;
2º) Aula (durante a aula) - O professor faz uma breve retomada do assunto, em seguida os alunos são submetidos a resolução de questões de maneira individual. Durante este momento, se medem os níveis de acertos desses alunos, pois o feedback é imediato, num sistema de votação, podendo recorrer a aplicativos como o Kahoot e o Socrative, dentre tantos outros. De acordo com Mazur (2015), ainda podemos simplesmente pedir aos alunos que levantem uma de suas mãos durante a aplicação dessa metodologia, como ele mesmo fez em suas aulas. Dependendo do resultado podemos ter duas situações: caso o nível de acertos seja inferior, a 30%, o professor retomará a explicação do conteúdo, e submete os alunos a resolução da mesma questão, ou outra semelhante; se os alunos acertarem entre 30% e 70%, serão orientados a formar duplas, e/ou grupos de três ou quatro alunos, para explicarem uns aos outros como resolveram a questão, após isso submete os alunos a resolução da mesma questão, ou outra semelhante. Durante a formação das equipes, o professor precisa certificar-se de que, pelo menos um membro de cada equipe tenha respondido à questão corretamente. É importante ressaltar que, tanto na primeira, quanto na segunda situação, independente do resultado obtido, após a segunda aplicação da questão, o professor explica a resolução dela, e segue para uma questão considerada mais complexa, ou simplesmente parte para o próximo tópico a ser estudado.
3º) (Pós-aula) (após a aula) - É fornecido um questionário referente ao tema trabalhado em sala de aula para que os alunos respondam, reforçando assim, o seu aprendizado, que serve também como um feedback da aprendizagem deles ao professor, e como pistas para o planejamento da próxima aula.